quarta-feira, 5 de outubro de 2016


ELIAS E FOUCAULT: OS ANTI-CARTESIANOS



José Remon Tavares da Silva



APRESENTAÇÃO

Abordaremos dois autores dificilmente conciliáveis, Norbert Elias e Michel Foucault. Embora, em sua superfície, compartilhem algumas referências terminológicas e questões sobre a sociedade moderna, tais como poder, história, indivíduo, sujeito, autocontrole, entre outros; eles diferem profundamente nos usos que fazem deles em função das visões de mundo completamente distintas que os animam: Foucault buscava subverter os processos e mecanismos em que nos enredamos a fim de potencializar seus elementos criativos, na forma de sua abordagem e no mundo; Elias desejava compreender as forças colocadas em movimento no mundo moderno a fim de evitar os riscos de suas consequências danosas a partir do conhecimento científico de seu funcionamento (SMITH, 2001). Procuraremos explorar as tensões entre os dois a partir de questões levantadas por eles sobre a sociedade moderna com base na noção de sujeito.

Para nós, o sujeito consiste em uma categoria privilegiada de aproximação e distanciamento entre Elias e Foucault. Embora compartilhem de uma a visão crítica em relação ao sujeito cartesiano (sobre o qual falaremos brevemente adiante, junto a suas repercussões para a filosofia e para o pensamento sociológico), a crítica de Elias e Foucault consegue condensar as perspectivas teórica e políticas de cada autor em questão. Por essa razão o tomamos como eixo de análise e comparação entre os dois. Ademais, parece-nos curioso como a crítica comum de ambos tenha conduzido a soluções tão divergentes e com amplos desdobramentos.

A perspectiva cartesiana do sujeito remete a obra de René Descarte, filósofo francês do Século XVII (HOTTOIS, 2008; REZENDE, 2002). Descartes, recusando qualquer princípio de verdade baseado no embuste da autoridade ou na ardilosa experiência sensória, desejava lançar os fundamentos sólidos e rigorosos do conhecimento a partir de procedimentos absolutamente seguros. Através do artifício da dúvida radical, metodicamente conduzida, Descartes procurou eliminar tudo o que lhe pudesse suscitar a menor incerteza, ou que não tivesse um fundamento seguro e absolutamente inquestionável. O “resíduo” encontrado é a consciência que duvida, em outras palavras o sujeito (substância) pensante. Com isso Descartes estabelece o primado do sujeito pensante sobre todas as coisas. Assim também, o fundamento de sua existência encontra-se em si mesmo. Essa posição abre um problema crucial sobre como é possível conhecer o mundo “fora” do sujeito. Para Descartes, o mundo só poderia ser conhecido porque as regras que o regem são idênticas as da consciência pensante (por operação e benevolência de um Deus generoso). Assim, voltando-se para si, a razão bem conduzida poderia compreender o mundo que o cerca de uma perspectiva estritamente racionalista. O corolário desse expediente consiste nas separações entre mente e corpo e entre a interioridade e a exterioridade, em suma entre sujeito e objeto, em que apenas o primeiro é capaz de fornecer a base do conhecimento. 

Assistimos ao desdobramento dessa reflexão em outras correntes da filosofia, aqui apenas sumarizadas: a filosofia transcendental de Kant, a fenomenologia de Husserl e o existencialismo de Sartre. Para o primeiro, o sujeito é também um corpo; e, a partir dele, acessa o mundo por meio das sensações. Contudo, as sensações não nos chegam diretamente. Aquilo que somos capazes de perceber no mundo são produtos de nosso entendimento, ou sínteses operadas pelas categorias a priori do pensamento, em outras palavras, fenômenos. Dessa forma, nossas experiências devem ser sempre remetidas a um sujeito pensante e a suas categorias imanentes. Na fenomenologia, ao menos nos escritos iniciais de Husserl, toda possibilidade de experiência do mundo dependia de um sujeito transcendental constituinte de sentidos. O mundo careceria de sentido próprio. Apenas em sua relação com a consciência doadora de sentido ele poderia aparecer como fenômeno. Por sua vez, Sartre foi um discípulo da fenomenologia e o defensor assumido do existencialismo.  Para ele, a existência precede a essência. A vida livre do indivíduo concreto constitui o eixo de formação dos valores, do conhecimento e das ações. O indivíduo torna-se aquilo que faz de sua vida dentro das circunstâncias dadas.

Em suma, o sujeito pensante da filosofia faz com que toda a realidade se desdobre em torno de um eixo egoico: só existe o “eu”, tudo o mais deriva de suas ideias e atividade. Por essa via, o sujeito converte-se no ponto de partida de todo o conhecimento. Essa perspectiva que privilegia o sujeito tem algumas repercussões para as ciências humanas.

Para compreender a extensão do subjetivismo (entendido aqui como a precedência do sujeito/indivíduo sobre a ordem ou sobre a sua preservação diante dela) na sociologia, recorreremos a Alexander (1996). Em sua apresentação sobre a relevância da teoria nas ciências sociais, ele destaca algumas tradições da sociologia, segundo os compromissos que realizam com pressupostos não empíricos, ou seja, as suposições mais gerais endossadas pelo sociólogo em sua atividade de investigação sobre a ação e a ordem social. A ação pode ser racional ou não racional: se as pessoas são fundamentalmente egoístas ou idealistas, se agem de modo instrumental ou segundo as normas, se são guiadas pela eficiência ou desejos e emoções. A questão da ordem pode ser resumida segundo a ideia sobre a forma como ela gerada: se a sociedade é estruturada de modo independente dos indivíduos que a compõem ou se pode ser vista como resultado de suas ações e intenções. Da combinação das preocupações sobre a ação e a ordem, compõem-se quatro grandes tradições (que possuem internamente suas nuanças): racional-individualista, racional-coletivista, normativo-individualista e normativo-coletivista.

Essas dimensões pressuposicionais revelam o quanto a sociologia tem se preocupado com as questões relacionadas com a liberdade e a ordem. De fato, tem sido um problema fundamental para os pesquisadores na sociedade moderna preservar, em algum nível, a liberdade individual. Segundo Alexander, a sociologia emerge da tensão entre indivíduo e sociedade, quando o primeiro desenvolve, especialmente na sociedade ocidental moderna, seu senso de independência e a sua capacidade de pensar livremente, permitindo a ele problematizar a sociedade como objeto: “A tensão entre liberdade e a ordem fornece uma justificação intelectual e moral para a sociologia: a sociologia explora a natureza da ordem social em grande medida porque lhe interessa suas implicações para a liberdade individual” (1996: 11). A separação entre o sujeito do conhecimento e o objeto, no caso a sociedade, reclama a sociologia como disciplina científica.

Em diversas gradações, essas tensões encontram-se presentes nas teorias sociológicas. Os pensadores selecionados aqui, Norbert Elias e Michel Foucault, têm se posicionado explicitamente sobre a questão. Suas elaborações teóricas constituem em respostas bastante inovadoras e um esforço significativo de superar a pressuposição do sujeito cartesiano na elaboração teórica sobre a sociedade moderna. Discutiremos o tema em duas partes. Na primeira, abordamos Elias a partir de sua noção de homo clausus. A partir dessa noção consideraremos sua concepção de história, de poder e fundamentação da teoria sociológica. Na segunda parte, contemplaremos a obra de Foucault, tomando o que ele consideraria mais tarde como o seu problema principal, a relação entre o sujeito e o poder. Consideraremos essas questões sob o pano de fundo de sua concepção de história e de conhecimento. Na parte final, apresentamos uma síntese das principais convergências e divergências entre os dois em relação ao sujeito.

1.      NORBERT ELIAS

            Elias tornou-se uma figura reconhecida internacionalmente na sociologia apenas no fim de sua vida (SMITH, 2001). Tendo escrito suas principais obras no conturbado período que antecipou a segunda grande guerra, ainda no seu exílio na Inglaterra nos anos 30, passou a ser reconhecido e ter seus textos traduzidos em diversas línguas por volta dos anos 80 e 90. Norbert Elias notabilizou-se principalmente pela sua obra de maior fôlego, O Processo Civilizador (2011), lançado em dois volumes. Trata-se de um estudo histórico amplo e teoricamente ambicioso em que ele pretendia descrever e explicar a emergência do Estado-nação e das maneiras de sociabilidade modernos (civilidade), enquanto aspectos de um mesmo processo. Dessa obra, junto com a Sociedade da Corte, que lhe antecedeu, Elias oferece, com base numa elaboração teórica construída especialmente para dar conta de dimensões específicas do desenvolvimento histórico da sociedade moderna, o seu arcabouço conceitual (SIMTH, 2001; VAN KRIEKEN, 1998).

            Entre as concepções trazidas por Elias, encontra-se a de homo clausus (ELIAS, 2011; 1994). Ela condensa uma intuição que desenvolvemos sobre a nossa experiência no mundo, especialmente nas sociedades mais avançadas do ponto de vista civilizacional, a partir da qual estruturamos nosso entendimento, separando um mundo interno de outro, externo. Delineia-se como uma barreira invisível que garante e preserva a integridade interior do indivíduo frente ao mundo externo. Assim, o ser humano passou a se projetar como ente externo a natureza, de onde passa a observá-la, emocionalmente desvinculado, igualmente como passa a olhar para os outros, enquanto entidades fechadas em si mesmo, sem qualquer relação consigo.

A concepção do indivíduo como homo clausus, um pequeno mundo em si mesmo que, em última análise, existe inteiramente independente do grande mundo externo, determina a imagem do homem em geral. Todo outro ser humano é igualmente visto como homo clausus. Seu núcleo, seu ser, seu verdadeiro eu aparecem igualmente como algo nele que está separado por uma parede invisível de tudo que é externo, incluindo todos os demais seres humanos (ELIAS, 1994: 230).

Essa intuição de uma interioridade encapsulada é o corolário de determinado estágio de desenvolvimento psicológico trazido com o avanço do processo civilizador. Não corresponde, portanto, a nenhuma essência humana. Desse modo, o homo clausus deve ser compreendido melhor como um mito: uma representação, em algum nível, fantasiosa, sobre o que nos constitui como seres humanos e que, ao mesmo tempo, nos orienta como devemos conduzir nossa existência no mundo e com os outros. A categoria deve ser denunciada como falsa, especialmente no uso que se faz dela na sociologia. Mesmo Parsons e sua crítica a visão utilitarista da ordem social não é poupado da acusação de Elias de ser mais um retorno inadvertido ao homo clausus[1]. Segundo Van Krieken, na visão de Elias:

Parsons endossou um argumento contra o que via como uma posição utilitarista, de que apenas um constrangimento externo poderia produzir a ordem (social), colocando na frente supostamente uma visão mais sociológica de que a ordem emerge da internalização das normas sociais, o que acabou por ser reconhecido na sociologia pelo conceito de socialização. O principal problema aqui é que Parsons, como os autores contra quem argumentava, assumia que o ordenamento social é externo aos indivíduos humanos. Seu argumento era apenas sobre como esses constrangimentos externos deveriam ser conceitualizados, em termos força bruta ou normas e socialização (1998:43)

Enquanto persistir a visão de que o indivíduo permanece uma substância fechada em si mesma, a sociedade não poderá ser vista como nada além de uma coleção de entidades desconexas e justapostas. Elias não se conforma em denunciar a ingenuidade dessa falácia, e indica o seu fundamento e, consequentemente, aponta os caminhos para a teorização sociológica.  Na introdução da edição de 1968 de O Processo Civilizador, Elias escreve:

Se perguntamos, mais uma vez, o que realmente deu origem a esse conceito de indivíduo como encapsulado “dentro” de si mesmo, separado de tudo o que existe fora dela, e o que a cápsula e o encapsulado realmente significam em termos humanos, podemos ver agora a direção em que deve ser procurada a resposta. O controle mais firme, mais geral e uniforme das emoções, característico dessa mudança civilizadora, juntamente com o aumento de compulsões internas que, mais implacavelmente do que antes, impedem que todos os impulsos espontâneos se manifestem direta e notoriamente em ação, sem a intervenção de mecanismos de controle – são o que é experimentado como cápsula, a parede invisível que separa o “mundo interno” do indivíduo do “mundo externo” ou, em diferentes versões, o sujeito de cognição de seu objeto, o “ego” do outro, o “indivíduo” da “sociedade”. O que está encapsulado são os impulsos instintivos e emocionais, aos quais é negado acesso direto ao aparelho motor. Eles surgem na autopercepção como o que é ocultado de todos os demais, e, não raro, como o verdadeiro ser, o núcleo da individualidade (2011: 237-238)

Para Elias, portanto, a percepção de um encapsulamento – o invólucro que nos contém e caracteriza como uma individualidade – é efeito de nosso autocontrole: o controle exercido por nós mesmos sobre nossos impulsos espontâneos e suas manifestações no mundo externo. O encapsulamento aparece como contenção: aquilo que encerra os limites e inibe o transbordamento. Pelo exercício do autocontrole, ou da contenção, afastamo-nos de qualquer ligação emocional com os outros, restando um sentimento de isolamento e solidão. É precisamente esse sentimento que fundamenta a intuição do indivíduo como “personalidade fechada”. A fim de superar essa visão e a teorização sociológica a ela correlata, Elias propõe que se adote a visão de homones aperti, enquanto constelação de seres influenciando-se reciprocamente, mesmo que, em maior ou menor grau, cada um preserve alguma autonomia.

Somente quando o indivíduo para de tomar a si mesmo como ponto de partida de seu pensamento, para de fitar o mundo como alguém que olha de “dentro” de sua casa para a rua “lá fora”, para as casas “do outro lado”, e enquanto é capaz – por uma nova revolução copernicana em seus pensamentos e sentimentos – de ver a si a sua concha como parte da rua, de vê-los em relação a toda a rede humana móvel, só então se desfaz, pouco a pouco, seu sentimento de ser uma coisa isolada e contida “do lado de dentro”, enquanto os outros são algo separado dele por um abismo, são uma “paisagem”, um “ambiente”, uma “sociedade” (ELIAS, 1994: 53)

Assim, em grande medida, Elias critica todas as abordagens sociológicas que partem de uma separação presumida entre indivíduo e sociedade, ego e alter, para avançar numa teorização baseada na articulação genuína entre os termos da oposição binária. Embora contrária à nossa intuição ou percepção espontânea a respeito de nós mesmo e da sociedade, para Elias, devemos tomar os seres humanos por aquilo que realmente são: seres formados em sua relação com os outros, em um sentido bastante penetrante de nossa constituição pessoal. “A ideia de que pessoas ‘estranhas’ possam ser parte integrante da formação de sua individualidade parece, hoje em dia, quase uma transgressão dos direitos do sujeito sobre si mesmo” (ELIAS, 1994: 53).

O indivíduo não deveria ser o ponto de partida de qualquer apreciação sociológica, mas as relações sociais. Ao invés de considerar os estados do indivíduo (na fase adulta em geral) e da sociedade e a partir daí suas relações, a sociologia teria a tarefa de investigar as relações gerativas entre os termos em processos de longo escopo. Elias cunha o termo figuração para representar a rede de interdependência entre indivíduos e grupos, em constante transformação e assimétricas em termos de poder. A metáfora reticular ajuda a compreender noção de figuração ao menos como uma imagem estática (portanto, limitada): um tecido formado por linhas entrelaçadas, envergando-se umas em relação às outras, com umas mais espeças, forçando outras a dobrarem mais em sua passagem. Segundo Elias:

Seres humanos singulares convivem uns com os outros em formações determinadas. Os seres humanos singulares se transformam. As figurações que eles formam uns com os outros também se transformam. Mas as transformações dos seres humanos singulares, e as transformações das figurações que eles formam uns com os outros, apesar de inseparáveis e entrelaçadas entre si, são formações em planos diferentes e de tipo diferente. Um ser humano singular pode ter relativa autonomia em relação a determinadas figurações, mas em relação às figurações em geral, quando muito, apenas em casos extremos. As figurações podem ter autonomia relativa em relação a determinados indivíduos que as formam no aqui agora, mas nunca em relação ao indivíduo em geral (2006: 26-27).

A figuração, como disposição constelar de indivíduos e grupos em intercâmbio de modo interdependente, não resultaria da vontade dos indivíduos ou de quaisquer grupos particulares, salvo em circunstâncias bem determinadas e limitadas. A margem de “manobra” de cada um depende da sua posição na configuração da rede. O poder, portanto, compreende antes a capacidade de um indivíduo, em virtude da posição ocupada na rede, de se autodeterminar e influenciar a outros em posições de menor autonomia. Fica evidente a proximidade com relação ao pensamento de Giddens, para quem o poder reflete uma capacidade acumulada maior de mudança e influência na estrutura.

Nesse tipo de constelação reticular, pode ser muito grande a margem de decisão acessível às pessoas que ocupam funções de liderança. Mas, seja maior ou menor a margem de decisão do indivíduo, o que quer que ele decida o alia a alguns e afasta de outros. Tanto nas grandes questões quanto nas pequenas, ele está preso à distribuição de poder, às estruturas de dependência e das tensões no interior do grupo. Os possíveis cursos de ação entre os quais ele decide são predeterminados pela estrutura de sua esfera de atividades e pela trama desta. E, dependendo de sua decisão, o peso autônomo dessa trama trabalhará a seu favor ou contra ele (ELIAS, 1994:51)

Elias também defende a imprescindibilidade dos indivíduos para a sociedade. Não pode haver sociedade se não existirem pessoas agindo de modo interdependente, não importa, na maioria dos casos, quem exerce quais funções. Mas, mais importante, é que não pode haver pessoas, senão no seio da sociedade. Conquanto carecemos, na visão de Elias, de mecanismos de regulação hereditárias, como nos demais seres vivos; desenvolvemos uma estrutura de auto-regulação psíquica através das interações estabelecidas com outros seres humanos, em conformidade com a configuração particular das funções e suas relações de dependência em um contexto determinado.

O que molda e compromete o indivíduo dentro desse cosmo humano, e lhe confere todo o alcance de sua vida não os reflexos de sua natureza animal, mas a inerradicável vinculação entre os seus desejos e comportamentos e os das outras pessoas, dos vivos, dos mortos e até, em certo sentido, dos que ainda não nasceram – em suma, sua dependência dos outros e a dependência que os outros têm dele, as funções dos outros para ele e suas funções para os outros (ELIAS, 1994: 43)

A sociedade não é apenas um conjunto dado de relações entre indivíduos e suas funções recíprocas e mutuamente dependentes, mas, igualmente, consiste em um encadeamento de transformações, sem necessariamente apresentar uma origem e sem um fim predefinido. Em linhas gerais, as sociedades se movem ou no sentido de uma maior diferenciação de suas funções e integração ou no do seu retraimento, com possibilidade de reversão. Assim, para Elias, “O conceito de processo social refere-se às transformações amplas, contínuas, de longa duração (...) de figurações formadas por seres humanos, ou de seus aspectos (...)” (ELIAS, 2006: 27-28).

As transformações de longo prazo podem reordenar profundamente as configurações das funções e da composição das relações de poder, criando longas e complexas redes de interdependência.  As intricadas redes de interdependência engendradas exigem um nível maior de autocontrole e refreamento dos impulsos. Tanto maior o nível de diferenciação e dependência das funções, mais elevada a auto-regulação psicológica requerida do indivíduo: “a interdependência das funções humanas sujeita o indivíduo” (ELIAS, 1994: 26). Não seriam as coações exteriores as forças por traz do processo civilizador, mas o autocontrole. Em uma sociedade civilizada, o avanço no sentido da diferenciação e integração, por meio de deslocamentos no poder, poderia gerar as condições de exigência de um maior autocontrole e de renúncia às pulsões. E, conforme gostaríamos de argumentar, são essas condições que dão suporte às concepções espontâneas como a do homo clausus nas sociedades avançadas.

Ela (a estrutura psicológica estabelecida em certos estágios de um processo civilizador) se caracteriza por uma diferenciação e uma tensão especialmente intensas entre as ordens e proibições sociais inculcadas como autodomínio e os instintos e inclinações não controlados ou recalcados dentro do próprio ser humano. É esse conflito no interior do indivíduo, essa “privatização” ou exclusão de certas esferas da vida da interação social, e a associação delas com o medo socialmente instilado sob a forma de vergonha e embaraço, por exemplo, que levam ao indivíduo a achar que, “dentro” de si, ele é algo que se relaciona com os outros “do lado de fora”. (...) O abismo e o intenso conflito que as pessoas altamente individualizadas de nosso estágio de civilização sentem dentro de si são projetados no mundo por sua consciência (ELIAS, 1994: 32)

2.      FOUCAULT

Embora seja difícil situar Michel Foucault, por sua personalidade elusiva (SMITH, 2001), em uma escola teórica, muitos o classificam como pós-estruturalista (RITZER, 1997; WILLIAMS, 2012; JOAS; KNOBLE, 2009). Essa filiação tem uma significação especial para a questão com a qual estamos lidando: a crítica do sujeito cartesiano. Com efeito, o estruturalismo caracterizava-se pelo seu distanciamento em relação à perspectiva humanista, segundo a qual o ser humano possuiria uma essência que deveria ser preservada ou ampliada contra as forças externas limitantes, alienantes ou opressivas. O pós-estruturalismo, por sua vez, volta-se para o sujeito, não mais para a busca de sua unidade ou núcleo, mas das forças descentradas responsáveis pela sua constituição.

Assim, para dar início, é importante registrar que Foucault era bastante crítico com relação à concepção de sujeito cartesiano, como uma consciência solipsista (tudo que existe são nossas experiências) e a-histórica/ transcendental. Em seu lugar, ele prefere pensar o sujeito como historicamente constituído, no interior da trama e das relações de poder e saber (REVEL, 2005). O sujeito, portanto, seria, por um lado, aquele sob o controle ou dependente de outro, e, por outro lado, aquele vinculado a uma identidade que passa a reconhecer como sua (FOUCAULT, 2013). Segundo Joas e Knoble: "(...) o sujeito é um efeito de poder ou mais precisamente um efeito de técnicas específicas de poder, que se desenvolveram desde o início do período moderno, particularmente nos séculos dezoito e dezenove os quais têm submetido os seres humanos a mecanismos detalhados de escrutínio" (2009: 359). Foucault afirma que, ao longo de suas pesquisas, sempre subsistiu a questão sobre os modos pelos quais nos tornamos sujeitos: "Meu objetivo (...) foi criar uma história dos diferentes modos pelos quais, em nossa cultura, os seres humanos tornam-se sujeitos" (2013:273).

Foucault concentra-se em como a constituição do sujeito é colocada em relações de poder e discurso. Isso faz com que ele se volte para as questões relacionadas ao poder, a partir da analítica do poder, ou seja, não segundo qualquer princípio fundamental de sua constituição ou de sua natureza, mas dos modos como o poder efetivamente funciona.

Segundo Foucault, por muito tempo, o poder vinha sendo exercido, pelo soberano, como direito sobre a vida, através da morte: "o direito de causar morte ou deixar viver"(2014:146). Trata-se de um direito sobre a vida em que o soberano possui a prerrogativa de lhe pôr fim a título de castigo ou exigir o sacrifício em seu nome. A época clássica experimentou uma forma profundamente diferente de exercício de poder (FOULCAULT, 2014). Ela tornou-se mais proeminente com a formação Estado moderno e de sua forma peculiar de exercício de poder, tanto individualizante como totalizante (RABINOW, 1984). Para entender melhor essas características, Foucault (2013) volta-se para as tecnologias de poder praticadas nas instituições cristãs, caracterizada como tecnologia de poder pastoral. Ela pode ser descrita sumariamente em seus aspectos principais:

a)                  O seu objetivo é assegurar a salvação individual no outro mundo;

b)                 É um poder que não apenas comanda, mas que se sacrificar pela vida e salvação do rebanho;

c)                  Cuida não apenas da comunidade, mas de cada indivíduo em particular;

d)                 É um poder que se baseia na confissão, a fim de conhecer os segredos íntimos e dirigir a consciência dos seguidores.

Em suma, trata-se de um poder dirigido para a salvação na outra vida, individualizante e abrangente, e relacionado a um saber baseado em uma verdade do próprio indivíduo. O poder pastoral busca moldar o indivíduo para que ele alcance a própria salvação após a morte. No Cristianismo, por meio da confissão, buscava-se alertar ao fiel sobre suas fraquezas a fim de que ele pudesse se redimir e encontrar o caminho para a salvação. Cuidava-se, assim, da alma de ovelha com a finalidade de salvar todo o rebanho. O Estado moderno consistiria numa nova forma de poder pastoral, modificando alguns pontos e ampliando em novas direções.

a)                  Muda o objetivo: assegurar a vida nesse mundo: saúde, bem-estar, segurança e proteção;

b)                 Ampliação na sua administração: encontra apoio em uma diversidade de instituições;

c)                  Um desenvolvimento nas formas de conhecimento sobre homem: um globalizador e quantitativo, demografia; e outro analítico, concernente ao indivíduo.

Essas transformações fizeram da vida e suas funções uma questão central de administração e gestão do Estado moderno: “O homem, durante milênios, permaneceu o que era para Aristóteles: um animal vivo e, além disso, capaz de existência política; o homem moderno é um animal em cuja política sua vida de ser vivo está em questão” (FOUCAUL, 2014: 154-155). Não seria exercido por um poder central, mas estaria difuso na sociedade, presente em diversas instituições: escolas, asilos, exército, prisões, clínicas e outras. Sua meta seria o melhoramento do desempenho em um sentido útil para a coletividade. Trata-se, portanto, de um poder positivo, mas não menos restritivo, portanto também subjetivante. Foucault caracteriza essa nova forma de exercício de poder como biopoder: “Se pudéssemos chamar “bio-história” as pressões por meio das quais os movimentos da vida e os processos da história interferem entre si, deveríamos falar de “biopolítica” para designar o que faz com que a vida e seus mecanismos entrem no domínio dos cálculos explícitos, e faz do poder-saber um agente de transformação da vida humana” (FOUCAULT, 2014: 154).

O biopoder desdobrou-se em dois sentidos, ou polos, inicialmente de modo separado, mas depois, interligados:  um dos polos referia-se aos seres humanos como espécie; o outro, ao corpo humano como máquina, ou objeto a ser manipulado (FOUCAULT, 2014; RABINOW, 1984; DREYFUS; RABINOW, 2013). No primeiro, de modo inédito na história, o corpo e seus processos biológicos tornaram-se foco de atenção política: nascimentos, mortalidade, longevidade, bem como outras condições e dimensões da vida. Na racionalidade política emergente (DREYFUS; RABINOW, 2013), o poder de um Estado estaria atrelado às condições de sua população, não da virtude de seu povo, mas de seus mecanismos biológicos e suas correlações.

No segundo polo, aparece o corpo como uma máquina, não mais como uma entidade biológica, mas um objeto a ser manipulado para dele retirar o melhor proveito. Desenvolve-se toda uma tecnologia do corpo como objeto do poder, a disciplina, em diversos espaços da sociedade, na escola, na fábrica ou nas prisões, com a finalidade de ampliar suas aptidões, espoliar suas forças e garantir a sua docilidade. Ela impõe a sujeição constante dos corpos, sua docilidade e utilidade. O exemplo mais acabado de controle disciplinar é o panóptico, modelo de arquitetura prisional elaborado por Jeremy Bentham, em que uma torre, erguida no centro de um edifício circular, permitiria observar todos os detentos sem que esses pudessem confirmar que estavam sendo observados. A expectativa de serem observados induziria efeitos de poder. Foucault, em vigia e punir (2010) e em História da Sexualidade: volume 1 (2014), sugere haver relações entre o biopoder e o poder disciplinar com o desenvolvimento do capitalismo.

Esse biopoder, sem a menor dúvida, foi elemento indispensável ao desenvolvimento do capitalismo, que só pôde ser garantir à custa da inserção controlada dos corpos no aparelho de produção e por meio de um ajustamento dos fenômenos de população aos processos econômicos. Mas o capitalismo exigiu mais do que isso; foi-lhe necessário o crescimento tanto de seu reforço quanto de sua utilidade e docilidade; foram necessários métodos de poder capazes de majorar as forças, as aptidões, a vida em geral, sem por isso torna-las mais difíceis de sujeitar (...) (FOUCAUL, 2014: 151-152)

O Século XIX anuncia uma nova técnica de sujeição e maximização da vida, quando a sexualidade entra no espaço gravitacional das preocupações da ciência, do controle administrativo e da sociedade: “(...) a sexualidade emergiu como um componente central em uma estratégia de poder que, de forma eficaz, reuniu o indivíduo e a população através da expansão do biopoder” (DREYFUS; RABINOW, 2013: 221). Não apenas o corpo e seus gestos, mas também os desejos mais recônditos se tornaram objeto de uma tecnologia específica, com implicações profundas na expansão do biopoder. “Graças ao dispositivo da sexualidade, o biopoder estendeu sua rede aos menores movimentos do corpo e da alma, através da construção de uma tecnologia específica: a confissão do sujeito individual, pela autorreflexão ou pelo discurso” (DREYFUS; RABINOW, 2013: 222).

A confissão, portanto, é o seu instrumento privilegiado, e trouxe consigo amplas ramificações em termos de efeitos de poder. Segundo Foucault (2014), a confissão não era uma prática estranha no Ocidente. Ela consiste num ritual ou uma técnica em que aquele que fala é também o objeto do que é enunciado. A confissão desenrola-se na presença de um outro (real ou suposto) que a solicita ou extorque. Nela, o que é dito requer uma autenticação realizada pelo outro que a escuta. Desse modo, se bem conduzida, a confissão promete efeitos múltiplos em quem a profere: o perdão, a purificação, a redenção, a expurgação das falhas e a libertação.

A verdade do sexo, desse modo, não provinha de uma sabedoria superior e transmitida pela revelação de um mestre, como na ars erótica de algumas civilizações orientais; mas vinha de baixo, de muitos sujeitos, incitados ou coagidos a falar e mostrar a verdade sobre si mesmos, seus desejos e obsessões, de algum modo orquestrado por um perito. Com a confissão, o sujeito procurava um conhecimento a respeito de si que, mesmo partindo dele, lhe era ainda estranho e exigia a participação de outro para a sua revelação. Desse modo, ao encontrar essa verdade revelada, o sujeito opera, na realidade, transformações em si mesmo. A confissão da verdade aparece como uma técnica que liga, de modo sutil, a construção da verdade ao exercício de um poder individualizante e subjetivante.

A sexualidade emerge, enquanto verdade do sexo e de seus prazeres, como corolário da scientia sexualis e de seus procedimentos confessionais. A sexo emerge discursivamente como um princípio oculto e enigmático que nos atravessa, nos constitui, e, no entanto, nos escapa. A verdade sobre o sexo aparece como revelação de uma verdade sobre nós mesmos que desconhecemos e nos determina. Verdade que se revela, não como propriedade do próprio sexo, mas em função das artimanhas de poder implicadas em sua produção discursiva.

Assim, resumem-se dois grandes mecanismos de subjetivação, i.e. processos de constituição do sujeito (REVEL, 2005). De um lado, os modos objetivantes, que submetem o indivíduo e seus gestos a um refinado escrutínio e controle, visando ampliar as capacidades e transformar em seres dóceis, por meio de técnicas de vigilância, disposição, classificação e temporalização dos corpos e movimentos, segundo hierarquias definidas e métodos de exame individualizante. De outro lado, as técnicas de si, por meio das quais o indivíduo é confrontado consigo mesmo através de práticas discursivas e levado a assumir a verdade relevada sobre si. Constituem-se em técnicas de subjetivação que se articulam a determinada forma de poder, o biopoder.   

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Recorremos a crítica de ambos autores, Elias e Foucault, à concepção de sujeito cartesiano como critério para eleger alguns aspectos da obra de cada um. Vários temas, portanto, colocamos de lado. Alguns deles talvez pudessem ser incluídos. Mas, em virtude da síntese que tivemos que realizar, não nos foi possível contemplar: penso, por exemplo, no processo de civilizador de Elias, que poderia ter sido descrito e analisado com mais detalhes e mais atento às suas implicações; ou a concepção de genealogia de Foucault, inspirada na Genealogia da Moral de Nietzsche. No entanto, dentro do que nos propomos realizar, conseguimos destacar elementos nas perspectivas teóricas de cada autor que permitem observar a distância reservada entre eles. Em primeiro lugar, a própria concepção de história ou processo histórico. Ambos são refratários a concepção teleológica da história. Contudo, Elias está mais propenso a observar os encadeamentos das transformações de longo alcance histórico; enquanto Foucault enfatiza as descontinuidades históricas. Em segundo lugar, a noção de poder entre os dois autores tem uma importância significativa. Nenhum dos dois viam o poder como uma substância: não seria uma coisa possuída em maior ou menor grau por um indivíduo ou grupo, mas presente nas relações sociais. Contudo, Elias via a dinâmica do poder nos processos figuracionais; e Foucault observava o poder nos termos da resistência, no equilíbrio dinâmico entre determinação e liberdade. Ademais, conforme vimos, o poder tinha, em Foucault, um importante aspecto discursivo, e remetia a constituição dos saberes, objetivantes ou interpretativos. De onde, também, podemos retirar o nosso terceiro aspecto: o papel do intelectual. Elias era bastante otimista em relação ao conhecimento científico. A ciência realizou grandes descobertas, relacionadas com uma nova perspectiva desenvolvida graças ao processo civilizador, em que o homem passou a observar o mundo de modo desapaixonado, como um objeto. O problema, para Elias, é que ele terminou se constituindo como um homo clausus, perdendo de vista sua conexão com os demais. Assim, o conhecimento, para que ele possa nos ajudar a evitar as agruras do processo civilizador ou evitar o retrocesso, deverá realizar uma nova revolução, para que possa ver o homem como aquilo que é: um ser penetrado de ponta a ponta pelo mundo social. Para Foucault, as ciências humanas estão profundamente implicadas em processos de poder. Diferentemente das ciências naturais, mesmo inicialmente constituída sob a égide de novas formas de poder, que podem delas se deslocar a fim de construir, observar e analisar seus objetos; as ciências humanas, objetivas ou interpretativas, são subjetivantes sempre que pretendem revelar uma verdade profunda sobre os seres humanos. Por essa razão, talvez, vemos Foucault tão reticente com relação a definições claras e precisas dos conceitos por ele utilizados, preferindo, no lugar, descrever a metodologia de análise. Foucault também acredita que o intelectual universal, aquele capaz de nos revelar a verdade sobre o mundo e o sentido da vida, teve a sua importância diminuída. O verdadeiro intelectual moderno é um especialista, concentrado em algumas dimensões e aspectos do mundo, mas nem por isso menos relevante politicamente. A verdade não existe fora do poder ou sem poder.  “A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder” (FOUCAULT, 2012: 52).

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[1] Elias discute de forma abundante as insuficiências e limitações de Parsons na introdução à edição de 1968 de O Processo Civilizador (2011).Nessa, convém lembrar, Parsons não detinha a centralidade que tivera nos anos 50. Diversas outras correntes da sociologia já haviam surgido, contestando aspectos de sua obra. Elias, então, põe em questão duas dimensões da obra parsoniana, com maior ou menor razão: a concepção estática da sociedade e a dicotomia sociedade e indivíduo (como entidades separadas).