DESIGUALDADE E IDENTIDADE
A
proposta geral da aula é prover recursos conceituais a partir dos quais seja possível
estabelecer uma visão mais sociológica das desigualdades sociais. Isso
significa, em primeiro lugar, afastar da visão tradicional de situar a
desigualdade social exclusivamente a partir do viés econômico por meio da já difundida
divisão da sociedade em classes A, B, C e D, conforme agrupamentos de renda e
riqueza e sua correlação com nível formal de educação. Em segundo lugar, para
pensar a desigualdade em termos propriamente sociológicos, não basta renunciar
ao viés econômico, precisamos apontar para alternativas. Para isso, devemos, na
primeira parte da aula, discutir as noções de igualdade e desigualdade, com
ênfase nos impasses e aporias envolvidas com a implementação de uma sociedade
mais justa. Na segunda parte, abordaremos a noção de estratificação social
desde o ponto de partida das principais orientações teóricas sobre o tema: Karl
Marx, Max Weber e Kingsley Davis e Wilbert Moore. Destacaremos desses autores
como eles avançam, a partir da noção de classes sociais e grupos de status, na
discussão de desigualdade social para além dos agrupamentos de renda e riqueza,
embora o fator econômico persista como o mais relevante em sua determinação.
Procuramos igualmente enfatizar os fundamentos teóricos de cada um ao abordarem
a estratificação social. Em seguida, na terceira parte, apresentamos abordagens
que podemos considerar como pós-marxistas e pós-weberianas, a partir das
contribuições de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, representando os
pós-marxistas, e Pierre Bourdieu, como pós-weberiano. Utilizamos essas
designações livremente para indicar apenas como cada um deles constroem suas
argumentações a partir de uma crítica dirigida aos clássicos da sociologia.
Neles, encontramos um debate que procura se afastar cada vez mais dos fatores
econômicos de determinação das desigualdades, colocando a estratificação
econômica mais como um efeito, por assim dizer, de processos sociais. Por fim,
na última parte, afastando cada vez mais dos fatores econômicos de determinação
das desigualdades sociais, apresentaremos o debate travado entre Axel Honneth e
Nancy Fraser acerca da noção de Reconhecimento como a nova gramática das lutas
sociais. Apoiados na teoria crítica, esses pensadores avançam numa discussão
sobre as desigualdades a partir da necessidade dos indivíduos e grupos de serem
aceitos e respeitados em sua singularidade identitária na moral do grupo social
mais amplo. Com esses autores, a dimensão da identidade ganha proeminência, sem
excluir a econômica, a questão colocada pela distribuição social. Com isso,
concluímos com a passagem de um viés mais econômico da desigualdade para outro
centrado numa luta por respeito a diferenças sociais identitárias.