quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Uma interpretação tipico-ideal de Durkheim


Pessoal, se me permitirem ousar um pouco nas formulações de Durkheim, dotando-o de um esquematismo excessivo, gostaria de propor um modelo que permitiria adotar Durkheim a partir do ponto de vista coletivista assim como individualista. Comumente adotamos o autor francófono como um coletivista, a partir de sua abordagem funcionalista. No entanto, tenho a impressão de que, em certo momento de seu desenvolvimento teórico, especificamente nos seus argumentos quanto a divisão social do trabalho, ele paulatinamente passa a adotar outra perspectiva, individualista, embora, em última instância, são as determinações sociais desse processo o que realmente preocupam Durkheim. O esquema é o que segue.

Se nas sociedades tradicionais, em que existe certo grau de acordo entre os membros quanto aos valores e normas (opiniões e pensamento), a coerção da sociedade é sentida a partir das sanções praticadas pelos demais membros; nas sociedades modernas, em que ocorreu avanço significativo da divisão do trabalho, e que, portanto, a semelhança de opiniões deixa de ser um pré-requisito, então, nestas, coerção é sentida pela incapacidade da ação individual às condições de existências objetiva (seriam as formas de sentir, agir e pensar, consolidadas - as formas de ser?). A maneira como Durkheim exemplifica isso é bastante eloqüente e merece ser reproduzida. Ele ilustra a situação de um comerciante que é forçado a adotar a moeda padrão caso tenha esperanças de prosperar em seu ramo - menos que o aspecto convencional da moeda, que não é imposto enquanto concordância subjetiva a opinião comum, mas uma convenção funcional ao sistema de mercado. Portanto, menos do que um desacordo com a consciência coletiva (que fora esgarçada no processo de divisão do trabalho), são as forças coagentes das condições objetivas de existência que condicionam, até certo ponto, a ação do comerciante, no caso exposto. Dito de outro modo, podemos afirmar que no primeiro caso a sociedade exerce sua influência nos sentimentos e pensamentos dos atores; no segundo caso, ela condiciona as possibilidades de ação. Por um lado, age no indivíduo desde o seu interior; por outro lado, age a partir de fora do indivíduo.

Um comentário:

  1. Adorei a idéia do blog, assim vc pode postar suas idéias e conhecimentos sobre Sociologia e seus pensadores...!!!
    Parabéns...

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